A geleia geral Soterópolis

Conversando com o poeta Capinan, veio à tona o velho conceito dos tropicalistas da "geleia geral brasileira". É o Bumba-meu-boi de Gil. A mesma dança da multidão vibrante, disforme, excluída, que converge na distribuição da carne de boi virtual! É o nosso Carnaval! Na largada da campanha eleitoral municipal, três receitas se candidatam a dar outro ponto à geleia Soterópolis, que azedou sob o comando de João Henrique. A Receita do Bolinho Popular, da Pipoca e a do Vovô, todas com iguais chances de vitória.

A turma do Bolinho Popular, não sei se de estudante ou acarajé, finalmente definiu uma aliança eleitoral respeitável com a cabeça do PT e o auxílio luxuoso de uma vice do PCdoB. Nos planos federal e estadual, o PCdoB tem sido um aliado fiel do PT. Na política municipal, nem tanto. Esta era uma fraqueza das esquerdas em Salvador. As duas formações políticas têm antigas interlocuções com as massas urbanas despossuídas. Quem não se lembra do "Trabalho Conjunto", nos anos 70, na periferia de Salvador? Este movimento político levou ao Palácio Thomé de Souza Lídice da Mata, que sofreu pressão do ACM estadual e do Fernando Henrique federal. Parece que fizeram um poderoso ebó, que afastou do poder municipal esta articulação da esquerda. O PT, nascido no final da ditadura, firmouse como partido vitorioso nos planos federal e estadual, aguarda uma política municipal vitoriosa. Esta receita de bolinho tem sustança e enfrenta desafios que lhe podem ser fatais. Ela precisa, antes, arrumar o Tabuleiro da Baiana e demonstrar para a atônita geleia como o alinhamento com Dilma e Wagner pode trazer projetos que realmente mudem para melhor a vida do povo de Salvador, que tem bom gosto para bolinhos...

A Receita da Pipoca é muito apropriada à cultura baiana. No Carnaval, chamamse "pipocas" os foliões apaixonados que dançam, pulam e são espremidos fora das cordas dos blocos e trios. A política municipal produz igualmente uma multidão de pipocas, somente visível através da mídia eletrônica, especialmente nas ondas do rádio. Fora das cordas das representações políticas e sindicais, esta multidão pipoca não tem canais de comunicação efetiva com o poder municipal. Um minuto de reclamação no rádio é o único pulo possível para esta massa de munícipes diversos e desorganizados. Eles terminam por constituir os radialistas como portavozes de suas reivindicações e indignações. A cidade já teve um prefeito radialista, Fernando José, o animador que "matava a cobra e mostrava o pau". Hoje, o PMDB resolveu lançar a candidatura de um radialista de sucesso. Segundo o grande chefe de cozinha desta turma, o antropólogo Roberto Albergaria, que protestem todos, todo o tempo, desopilem o fígado e elejam quem sabe governar e já foi duas vezes prefeito da Soterópolis, há muito tempo! A maioria dos atuais leitores nem era nascida, e os remanescentes nem se lembram mais que ele foi o prefeito biônico de ACM. Se as duas outras receitas não entusiasmarem, a tentação da Pipoca midiática poderá ser vitoriosa. Por fim, há a tradicional e requentada Receita do Vovô, trazida por um jovem deputado, neto do finado ExTudo da Bahia. A volta ao passado é um remédio recorrente para desiludidos e derrotados da história. Na Bahia ainda constitui uma força considerável, posto que garante um eleitorado saudoso e cativo de 30% de votos, capaz de eleger o neto da entidade para sucessivas legislaturas. O primeiro ponto a ser considerado é a capacidade de multiplicação deste contingente de eleitores em uma conjuntura de desilusão política. A bem da verdade, o jovem deputado tem buscado modernizar as práticas do Vovô, movido pelo empenho em impedir a extinção nacional do partido que tem no seu DNA toda a história da extrema direita brasileira: Arena, PDS, PFL, DEM. Com a sua recondução ao Parlamento assegurada, nada tem a perder. Cultiva o jeito de menino prodígio, escovadinho e bonitinho, para a admiração da vereadora Léo Kret. O gosto pelo "old fashion" não deve ser negligenciado.

O jogo está feito, que seja o que o povo quiser. Axé.

Download do artigo  publicado pelo jornal A Tarde - em 13 de julho, 2012.

Historiador e membro da Academia de Letras da Bahia
ubiratancastrodearaujo@gmail.com

btemplates

0 opiniões:

Postar um comentário